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terça-feira, 10 de agosto de 2010

TEMPO BOM QUE NĂO VOLTA NUNCA MAIS?

Esqueça o frase acima. E pode desenterrar seu terno do armário e comprar um tubo de gel para fixar as madeixas, pois o tempo da brilhantina é agora!



O universo Soul vive um revival através de bailes espalhados em diversas regiőes do país. Um deles acontece há mais de 20 anos, na periferia de Belo Horizonte e, năo ŕ toa, leva o nome de baile da Saudade. Lá, a idéia é relembrar bons e velhos tempos, quando as pessoas ainda saiam ŕ noite apenas para dançar...

Em tempos de balada e “pegaçăo”, o baile da saudade pode ser uma saída pra quem quer curtir a noite com qualidade, cercado de pessoas civilizadas e boa música. Basta năo ter preconceitos nem pudores, afinal, por lá, todo o tipo de gente passa e dança, cada um do seu jeito. Nada é ridículo. Vale sacudir da maneira que quiser (por mais bizarra que ela seja) e o melhor: ninguém olha ninguém de olho torto!
“Ninguém tem que copiar ninguém. Cada um cria o seu estilo através do suingue, basta deixar o ritmo entrar”, garante o freqüentador, Zé Black, dançarino. Mas, para aqueles que fazem o estilo “pé de valsa”, é oportuno aperfeiçoar os passos de dança. Para isso, basta se aproximar de um dos “tiozőes” da velha guarda. Conhecidos com “blacks das antiga”, eles beiram os 50 anos e estăo envolvidos com a música negra desde o início da sua existęncia, em meados dos anos 60. “Nós somos a rapa do Soul! Eu freqüento os bailes desde 72. Tiveram vezes do salăo ter apenas 3 ou 4 pessoas dançando. Mas, persistimos e agora o baile é moda e fica lotado”, diz Ronaldo “black”, dançarino. A pesquisadora e especialista no assunto, Rita Ribeiro, explica: “Os bailes belo-horizontinos surgiram por influęncias dos cariocas e viveram seu auge até a década de 70. A partir daí, começaram a declinar e migraram do centro para as periferias. O Soul foi esquecido e preenchido pelo movimento da disco. Mas, hoje, vivem um revival.”



Acompanhando os bailes desde aquela época, os tios esbanjam experięncia no assunto e roubam a cena nas noites na periferia de Beagá. Sacodem o esqueleto com muito estilo, harmonia e equilíbrio, formando passos de dança de deixar muito desavisado de queixo caído. E para incrementar o show, se vestem a caráter, com figurino impecável, afinal, dançarino de Soul que se preza é perfeccionista. Capricham nos mínimos detalhes, da cabeça aos pés: sapatos de bico fino (lustrados), capas, bengalas colares e cabelos ouriçados. Os que năo tęm a cabeleira avantajada, usam chapéus, ganhando ares de mafiosos.
“Na época do Fred Esnel Junior, o pessoal do sapateado usava chapéu. Depois, o cabelo partido ao meio virou moda. E, finalmente, o Toni Tornado trouxe para o Brasil o ouriçador de cabelos, em 78, e os blacks passaram a utilizar aquela juba enorme”, relembra “Loirinho”, dançarino que se apresenta nos bailes sempre, em dupla, com a sua mulher. A pesquisadora analisa: “Eles podem ser anônimos, trabalhadores como outros quaisquer. Mas, quando se preparam para o baile, o fazem para brilhar. Naquela noite eles tęm identidade, se sentem reis.”

E para embalar o suingue dos dançarinos, apenas pérolas como Gerson King Combo, Toni Tornado e o nosso síndico: Tim Maia! Mas, o som que mais agita a pista é, sem dúvida, James Brown, literalmente “o” cara!
“James é o cara porque, além de ser um músico fantástico e ter uma presença de palco maravilhosa, foi uma das primeiras pessoas a mostrar que ser negro era um motivo de orgulho”, acrescenta Rita. “Ás vezes as pessoas debocham porque eu năo falo inglęs e năo entendo o que o Brown está falando. Mas eu năo ligo. Danço em cima da batida, com o coraçăo e com a alma” desabafa o dançarino e fă apaixonado de James Brown, Ronaldo Black.

Depois de horas de batidăo e muita suadeira no salăo, chega o momento mais romântico da noite: a hora da música lenta! A piscodelia de bandas como o Pink Floid acalma a noite e cria um clima perfeito para os homens chamarem as mulheres para dançar! Tudo bem ŕ moda antiga, com direito a trocas de olhares e até frio na barriga!
“Pra mim esse é a melhor hora. Rola muita expectativa por parte das mulheres solteiras que esperam serem chamadas, por alguém, para dançar”, diz a dançarina conhecida como “Dama do Soul”.



O baile da Saudade é assim, um universo particular. É como uma viagem no tempo. Um terreno fértil para estudos sócio-antropológicos ou simplesmente para ser observado e apreciado por curiosos (como eu). O difícil é năo se misturar a ele, năo se envolver com as pessoas que fazem parte dele, pois tudo lá é puro e encantador. Um lugar que mata e provoca saudades...

Ai que saudade tenho dos bailes de outrora..

foto notíciasuem não se lembra dos bons tempos das músicas de Francisco Petrônio? Nos anos 1960, o cantor e apresentador do programa“Cantando com Petrônio”, na TV Paulista, gravou mais de 50 discos. Seu maior sucesso foi a música “Baile da saudade”, gravada em 1964.

Com o apelido de “a voz de veludo do Brasil”, que recebeu de Airton Rodrigues, apresentador do programa “Almoço com as Estrelas” (da extinta TV Tupi), Petrônio tornou-se uma espécie de rei dos bailes. Ele faleceu em 19 de janeiro de 2007, aos 83 anos, mas os “bailes da saudade” continuaram, e com muita vitalidade, até os dias de hoje.

A estréia do filme "Chega de Saudade", segundo filme da diretora Laís Bodanzky, na 6ª feira, 21/03, reacende a memória dessa época de ouro, mostrando que esses bailes promovem umencontro de gerações, além de confirmar que, o que os mais velhos fazem há muito tempo, os jovens estão descobrindo agora: o sabor de dançar de rostinho colado.

Segundo Laís, o impulso que a levou a fazer "Chega de Saudade" foi seu prazer pessoal pela dança e pela música. Freqüentando os salões de baile em São Paulo, descobriu algo além da dança: a história daqueles freqüentadores e como o ambiente tinha uma pulsação única de vida e de alegria.

“São pessoas de universos distintos, mas que têm todas em comum avontade de sair de casa, de correr riscos, o risco da busca de felicidade e do prazer, ao mesmo tempo enfrentando os seus dramas pessoais e cotidianos. Elas fazem essa busca de uma maneira muito agradável. É um aprendizado de vida”, afirma Laís.

Mas um detalhe encantou Laís mais do que os demais. A diretora percebeu, durante suas pesquisas para a realização do filme, que, além da música e da dança, a sensualidade regia aquele universo e, mesmo as mulheres mais gordinhas e os homens carecas, por exemplo, emanavam uma indiscutível elegância corporal. “Tudo isso entrava em contradição com a minha idéia do que era envelhecer; a idéia que a sociedade nos impõe de que, a partir de certa idade, não podemos mais nos apaixonar, amar e viver intensamente. Os salões de baile restituem às pessoas esse passaporte, a possibilidade do encontro, do dançar de corpo colado”, destaca.

foto notíciasEm São Paulo ainda há muitos lugares para dançar “à moda antiga”. Da Lapa (zona oeste) ao Tatuapé (zona leste), passando pelo centro e pelos Jardins, São Paulo abriga pelo menos 40 bailes por semana, de segunda a domingo.

Quem freqüenta bailes há muito tempo com certeza já dançou muito no famoso Clube Piratininga, na alameda Barros, quase esquina com a avenida Angélica (região central de São Paulo). O clube lembra lembra muito aqueles salões de interior que, ao som de bolero, chachachá e samba de gafieira, embalam, em média, 800 pessoas, com idades que variam de 15 a 90 anos.

O baile "Espanta Preguiça", da Sociedade Beneficente União Fraterna, na Rua Guaicurus (bairro da Lapa, em São Paulo), oferece uma pista de dança que, em plena segunda-feira, consegue atrair mais de 400 pessoas no tradicional baile "Espanta Preguiça". O clube serviu de cenário para o novo filme de Laís Bodanzky, no qual o enredo gira em torno dos habitués de um antigo salão.

O filme, com Tonia Carrero, Fernando Villar, Betty Faria e Cássia Kiss, dá ao espectador a possibilidade de passar uma noite em um salão de baile e nos faz reviver aqueles momentos tão doces dos bailes de outrora.

Um clube, um baile, uma saudade...


Peguei a Folhinha de Mariana (lembro dela, ficava atrás da porta do quarto da minha mãe), e gritei assustada:
---- Angela, estamos no final de maio, o baile do aniversário do Alvinopolense já está chegando, temos que guardar um lugar com Alaide ( nossa costureira) e vamos já para loja de Chiquito ver os tecidos . Bizé já comprou o dela e falou que Chiquito está uma fera, pois o vendedor deixou poucas cores e estampas, quem chegar primeiro leva o melhor.

Lembro da cara de Chiquito, olhar desconfiado, parecia que ele não gostava de atender as moças da Baixada, achava a gente metida e exigente. Falava assim:
----Já vem as enjoadas da Baixada!

Saíamos de lá, felizes com os tecidos e corríamos para o atelier de Alaide, que toda risonha, sentava conosco para nos ajudar na escolha dos modelitos.
Vitória de Sr. Jorge Turco, sempre aparecia, corria os olhos, morrendo de inveja!

Coração apertado, lembrava que, toda época do baile no Alvinopolense, meu namorado arrumava um jeito de terminar o namoro comigo.
É que ele estava fissurado numa garota do bairro do Gaspar e ela saracutiava para o seu lado.
De olho no relógio, da varanda lá de casa, via Paulo Andrade dando as últimas recomendações para Marinês:
---- Não espere o baile acabar, não entra no carro do Josias e não beba no copo de gente estranha, dizem que estão colocando uma tal de bolinha na bebida para as moças ficarem doidonas.

Que coisa deliciosa lembrar nossa chegada trinfal na porta do clube. Quantos degraus para chegar no salão. Naquela hora, até tropeçávamos, a ponto de Tuola ( o presidente do clube) gritar da portaria:
----Cês tão muito assanhadas, vão cair dessa escada, eu não tenho nada com isso!
Engraçado! Era demorado subir aquela escadaria toda, mas era gostoso chegar no salão, dar de cara com o conjunto tocando Beathes e ver o reflexo da luz negra no meu vestido, e ainda por cima passar os "zóios" nos rapazes, encontrar um bem lindo, conquistá-lo, dançar com ele a noite inteira, e nem dar bola para o ex-namorado, que, nessas alturas, já me olhava desconfiado, pois a outra garota tinha encontrado alguém de fora ("pião" de João Monlevade).

Dançar coladinho! Como era bom!
Azar o meu, não era com ele.
Azar o dele, não era comigo.

O baile acabou.
Voltamos para casa felizes da vida!
Angela tinha ficado com Cuca, Marinês vinha de carro até na esquina do Quimquim Terra, para seu pai não ver, e meu ex-namorado ficava de longe, vendo meu beijo de despedida, chupando o dedo!

Ah! De quebra, Jamil, meu vizinho, ficava atrás da janela do seu quarto, vendo nossa turma chegar, doido para amanhecer e ficar sabendo as últimas do baile.